Anos Finais Fundamental

ORIENTAÇÕES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Organização do Transporte Escolar

Em um país com as dimensões territoriais do Brasil e com uma diversidade de geografias, garantir que todos os estudantes possam chegar à escola, em segurança e pontualmente, é um desafio que as secretarias de educação precisam lidar juntamente com as lideranças de cada unidade escolar.

O transporte escolar é dever do Estado e direito dos estudantes da educação básica pública, previsto no artigo 208 Constituição Federal de 1988 e na LDB de 1996. A lei determina que os Estados devem assumir o transporte dos estudantes da rede estadual e os Municípios assumem os da rede municipal (dispositivos incluídos na LDB de 1996 pela Lei nº 10.709, de 03 de julho de 2003).

Há também a possibilidade de atuação em regime de colaboração. para a oferta de transporte escolar (veja mais aqui, uma vez que o art. 3. da LDB define que “Cabe aos Estados articular-se com os respectivos Municípios, para prover o disposto nesta lei da forma que melhor atenda aos interesses dos alunos”.

A implementação da proposta requer atenção especial ao transporte escolar, recomendando algumas ações para as redes garantirem esse direito.

O primeiro passo para organizar a oferta de transporte escolar é realizar um mapeamento inicial sobre a distribuição de matrículas (de acordo com as metas de atendimento), a localização da residência de cada estudante que precisa do transporte escolar, as condições de transporte atualmente ofertado e as condições geográficas de cada região.

Aspectos importantes a serem observados no mapeamento do transporte escolar
Item a ser observadoDescrição da ação
Demanda pelo serviçoVerificar, com apoio das escolas, quantitativo de estudantes, por região, que dependem do transporte escolar; os endereços de origem e destino; horários de entrada e saída; idade de cada estudante; e se há estudantes com deficiência que necessitam de veículos adaptados ou outro apoio.
Disponibilidade espacial/geográfica do serviçoVerificar a existência de ligação entre o local de residência do estudante e a escola em que estuda. Esta ligação só existe quando há infraestruturas, serviços e equipamentos disponíveis.
Tempo de viagem no veículoVerificar o tempo, em média, que os estudantes permanecem no veículo durante o trajeto residência-escola e escola-residência.
Situação da frotaVerificar o estado de manutenção dos veículos, sendo que todos os seus itens básicos deverão ser avaliados quanto a critérios de funcionamento. Além disso, todos os veículos utilizados no transporte escolar devem ser periodicamente vistoriados pelos órgãos de trânsito conforme determina o art. 136 do Código Brasileiro de Trânsito (Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997).
Continuidade da oferta do serviço de transporte escolarVerificar o percentual de casos em que há interrupção na oferta do serviço de transporte. Nesse caso, considera-se a relação entre as viagens não iniciadas e as viagens programadas.
Satisfação dos estudantes e famíliasVerificar, por meio de processos de escuta dos estudantes e suas famílias, se estão satisfeitos com a oferta de transporte escolar existente; o consideram seguro e confortável; sentem-se acolhidos e respeitados por esse serviço.

É importante que a secretaria de educação defina parâmetros para o transporte escolar. O objetivo desses parâmetros é estabelecer como deveria ser e o que a secretaria de educação considera como um bom transporte escolar. Algumas ações que podem apoiar na criação de parâmetros podem ser:

  • Definir o tipo de veículo a ser utilizado: para efetuar essa escolha, é necessário considerar características da demanda e do itinerário, tempo de percurso, condições e características das vias (terrestres ou aquaviárias) que serão percorridas,  tecnologias disponíveis e as demandas dos estudantes (por exemplo, veículo adaptado para estudantes com deficiência).
  • Definir quem prestará o serviço: podendo ser uma frota da própria secretaria de educação, terceirizada ou mista. 
  • Definir a localização dos pontos de parada: o tempo de deslocamento entre a residência do estudante e o ponto de embarque no veículo deve ser o menor possível. Idealmente, o trajeto entre a residência do estudante e o ponto de embarque no veículo deve ser curto, seguro e confortável.

 

Assim, é importante que os pontos de parada estejam a uma distância que garanta um tempo desejável de deslocamento para os estudantes, sendo que cada secretaria pode definir o tempo máximo aceitável. Cabe ressaltar que a legislação recomenda que o estudante esteja matriculado em uma escola próxima a sua residência e, na maioria das redes, o transporte é oferecido a estudantes que estudem a mais de 1km de distância das escolas.

A principal referência nacional para organização da oferta de transporte escolar é a Resolução nº 18, de 22 de outubro de 2021. Ela estabelece diretrizes e orientações para o apoio técnico e financeiro na execução, monitoramento e fiscalização da gestão de veículos de transporte escolar, pelas redes públicas de educação básica, no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE).

Uma logística de transporte escolar é fundamental para garantir o acesso à escola, tanto nas zonas urbanas quanto, e principalmente, nas zonas rurais. A partir do número de estudantes que necessitam do transporte escolar, é preciso planejar as rotas, a programação horária do serviço, dimensionar a frota e garantir recursos compatíveis com o planejamento. Isso pressupõe:

  • Definir as rotas: que devem ser calculadas a partir da capacidade dos veículos e do tempo de permanência dos estudantes no veículo ao longo do percurso. A roteirização permite o acréscimo de outras restrições, tais como a extensão ou a quantidade máxima de pontos de embarque por rota, por exemplo. Importante ressaltar que as rotas devem contar com distâncias que minorem o cansaço físico do estudante, contribuindo para o seu bem-estar.
  • Definir a programação do serviço, compreendida como o horário de saída dos veículos das garagens. Para isso, é preciso considerar o horário necessário de chegada na escola; tempo total de deslocamento entre origem e destino;  tempos de percurso entre os pontos; e, caso exista, tempo parado esperando os estudantes em cada ponto.
  • Dimensionar a frota: após a conclusão da roteirização e da programação horária, é necessário realizar o cálculo da frota básica, considerando o número de rotas definidas para um mesmo turno de operação e o tempo de viagem de cada rota.
  • Definir a fonte de recursos que será utilizada para propiciar o transporte escolar e garantir recursos compatíveis com o planejamento orçamentário realizado.

Uma vez organizada a oferta de transporte escolar para os estudantes, é necessário colocar o planejamento em prática, garantindo ações relacionadas à gestão da frota, à manutenção dos veículos e à fiscalização da execução do serviço de transporte escolar e dos prestadores de serviço. Nesse processo, alguns aspectos devem ser continuamente monitorados. É importante verificar se:

  • o sistema de transporte escolar permite o atendimento da demanda existente nas escolas;
  • os estudantes estão satisfeitos com a oferta de transporte escolar existente, pois o consideram seguro e confortável e sentem-se acolhidos e respeitados por esse serviço;
  • os processos de (re)planejamento das rotas e trajetos existem e levam em consideração a vida útil dos veículos e a distância e o tempo de viagem da residência dos estudantes até a escola;
  • os problemas identificados na operação do sistema de transporte escolar são resolvidos de maneira ágil e eficiente, garantindo que os estudantes acessem a escola e não abandonem os estudos;
  • as determinações do art. 136 da Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997 são cumpridas pela rede de ensino: quando a frota é própria, a secretaria de educação realiza regularmente manutenção dos veículos; já quando a frota é terceirizada, fiscaliza os prestadores de serviços.

Alô, liderança! Dicas para implementação:

  • A estruturação desse serviço é complexa e demanda muitas etapas. Lembre-se de registrar no Plano de implementação  todo esse esforço realizado pela equipe da secretaria de educação.
  • Sem a oferta de transporte escolar, muitos adolescentes podem não ter condições de permanecer na escola, agravando ainda mais os índices de abandono dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Por essa razão, o planejamento de alternativas que garantam o acesso diário e a permanência dos estudantes é essencial, contribuindo para a inclusão dos adolescentes. 
  • O processo de planejamento e avaliação do serviço pode contar com a escuta dos estudantes e das famílias, o que trará elementos para ofertar um transporte com maior qualidade e que atenda às necessidades. 
  • A oferta de transporte escolar em regime de colaboração, além de otimizar recursos, pode ser o melhor caminho para efetivamente atender todos estudantes. É possível parcerias em que o estado compre veículos e ceda aos municípios ou ainda o estabelecimento de convênios com repasse de recurso do estado aos municípios para que estes possam, por exemplo, ofertar passe escolar, fretar veículos ou realizar manutenção e despesas com combustível. Veja mais sobre políticas colaborativas aqui.
  • No site do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar – PNATE há um conjunto de orientações, manuais e materiais que podem apoiar as redes de ensino no planejamento e oferta do transporte escolar. É um rico conteúdo que a equipe da secretaria de educação, responsável pela gestão desse serviço, pode consultar.

Diferenças da oferta de transporte urbano e rural, fontes de financiamento e sistema de gestão do transporte escolar

Se a rede de ensino atende zonas rurais, a secretaria de educação terá de organizar um sistema de transporte que contemple esta especificidade, atendendo a todos os estudantes. Nesse caso, o planejamento pode incluir os recursos financeiros e apoio técnico do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar – PNATE. 

As características de cada região do estado e do país terão lugar relevante nesse planejamento, pois estudantes poderão residir em lugares remotos e a logística pode envolver a contratação de serviços de transporte específicos que garantam a segurança e o conforto dos adolescentes.  

Se a rede de ensino atende áreas urbanas, a secretaria de educação deve ter o máximo de conhecimento das linhas de transporte (rodoviário, ferroviário e hidroviário) existentes nos diferentes territórios, procurando certificar-se de que há meios seguros dos estudantes chegarem à escola no horário certo e voltar para casa em segurança. 

Cada secretaria de educação também pode implementar, caso ainda não existam, programas de oferta gratuita de transporte escolar para atender às regiões urbanas e utilizar os recursos do PNATE, desde que não haja prejuízo ao atendimento dos estudantes residentes na zona rural e matriculados nas escolas das redes públicas. O ideal é que o deslocamento seja gratuito, rápido, seguro e confortável. 

É possível acessar também os recursos do Programa Caminho da Escola, que é voltado, prioritariamente, ao atendimento dos estudantes da zona rural. Criado pela Resolução nº 3/2007 e disciplinado pelo Decreto da Presidência da República nº 11.162/2022, tem por principais objetivos a renovação e padronização da frota de veículos utilizada no transporte escolar pelos sistemas públicos de ensino. 

No caso da necessidade de aquisição de veículos adaptados para atender aos estudantes com deficiência, é possível pleitear recursos específicos para isso, seguindo orientações previstas na Resolução/MEC nº 12 de 08 de junho de 2012

Um recurso auxiliar na gestão do transporte escolar é o software de e-governança SETE Sistema Eletrônico de Gestão do Transporte Escolar desenvolvido pelo Centro Colaborador de Apoio ao Transporte Escolar da Universidade Federal de Goiás (Cecate/UFG), em parceria com o FNDE. O Sistema é distribuído gratuitamente, sob a licença de software livre MIT, o que possibilita o compartilhamento e modificação do código por terceiros.